quinta-feira, 22 de março de 2012

Pianos e pianos


Eu tinha um, meu marido tinha um.

Quando nos casamos, o meu ficou na casa da minha mãe e o dele na minha sogra afinal, apartamento pequeno não tinha lugar nem para um quanto mais para dois pianos.

Anos depois, meu pai se apertou e vendeu o piano, afinal, ninguém usava, ninguém se opôs e pronto, lá se foi meu piano embora. (E ninguém se opôs uma vírgula, eu fui contra mas ainda não tinha aonde enfiar o bendito piano e o comprador foi mais rápido do que eu).

Um ano depois, vacas gordas saindo pela janela, ganhei um piano do meu pai. Se foi remorso eu não sei, só sei que o piano Technics custou muito, mas muito mais do que o que eu tinha antes. E de quebra vinha com a orquestra inteira dentro dele. Muito bom, som perfeito, fidelidade a um piano mecânico quase perfeita. Quase, porque pianista clássico que se preza não pode achar que piano elétrico é melhor nem sob tortura.

Claro que o piano alemão do meu marido, uma antiguidade quase sem preço, estava mofando na casa da minha sogra, e ainda tinha um som muito mais bonito que qualquer outro que já escutei mas estava pintado de branco(eca) e meu marido se recusava a cogitar a possibilidade dele vir parar em nossa sala.

Mas estava lá, meu piano novo, lindo, maravilhoso...e elétrico. Cheio de chips e comandos, dessas coisas modernas que de uma hora para outra podem falhar. Tudo bem que Technics quase nunca dá problemas mas o quase é uma variável que, em 100% dos casos, acaba caindo na sua cabeça.

Conosco não foi diferente. O piano funcionou muito bem durante seis anos, depois, do nada, o som despareceu das caixas, só funcionava nos fones de ouvido. Começamos então a procurar alguém que pudesse consertar nosso piano e nada. Técnicos especializados naqueles potentes órgãos de igrejas, feras em conserto de eletrônicos, nada resolveu.
Detalhe, a Technics no Brasil não tem um filhadaputa de um lugar para atender este tipo de problema.

Até o Leo, aquele rapaz quietinho que está em todos os encontros do Conselho Jedi, que nunca fala nada mas que faz com que tudo o que tem fio, funcione, foi lá em casa. Em cinco minutos o piano estava no chão, literalmente, todinho desmontado e o Leo em volta dos circuitos, testando aqui e ali, fazendo coisas que nenhum dos supostos especialistas tinha sequer tentado. Ele encontrou o defeito e construiu do zero um amplificador novo mas o piano continuou quebrado.

Enquanto isso, o piano alemão E BRANCO foi parar na casa do meu irmão porque minha sogra se mudou para um apartamento novo e o piano BRANCO não combinava com a decoração dela :/

E ficou lá por mais alguns anos até que um dia ele me avisou que iria reformar a sala e eu teria que tirar o piano de lá.

E nesse meio tempo, descobrimos através de um amigo de um amigo de um conhecido do meu irmão que aquele piano BRANCO, já desafinado valia muito mais do que nós imaginávamos e que a pequena plaqueta de metal que tinha dentro dele nada mais era do que um número de catálogo e que o piano, fabricado em 1913 valia uma pequena fortuna.

Vale mas ninguém paga, principalmente porque ele está todo BRANCO,coberto por uma pátina horrível e mal feita.

No fim, ficou decidido que vamos pegar o piano de volta, mandar para a reforma para tirar aquela pátina nojenta dele e vamos colocá-lo no lugar aonde ele deveria ter ficado desde o princípio : na nossa sala.

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