terça-feira, 10 de julho de 2012

Sobre professores e professores que serão para sempre lembrados.

A primeira coisa que é necessário se deixar clara é que eu tenho memória seletiva.

Isso seria muito interessante e útil para mim se meu consciente conseguisse controlar essa seletividade.

Eu sou capaz de me lembrar de algo que li ou escutei há 30, 35 anos atrás com uma clareza espantosa. E, com o mesmo espanto, percebo que não me lembro do que jantei ontem em casa.

Posto isso, vamos ao que interessa : professores.

De minha infância, eu só consigo me lembrar de uma professora que, nas tardes quentes e abafadas de Goiânia, depois que terminava a matéria do dia, lia para nós em voz alta contos de fadas. Não me lembro de seu nome, nem qual era a matéria que lecionava mas não me esqueço de sua voz lendo A História de Bichano e Corsa Branca em um grande volume encadernado na cor verde.

Foi com ela que aprendi a amar Contos de Fadas e até hoje tenho comigo a coleção completa destes livros que fiz minha mãe comprar para que eu pudesse ler todos.

No ginásio, que hoje engloba do sexto ao nono ano eu era filha do diretor da escola em que estudava e eu odiava imensamente a puxação de saco que os professores empreendiam diariamente na intenção de estar sempre nas boas graças do patrão. Deste tempo, não guardei nomes, rostos e nenhuma lembrança boa ou ruim. Aprendi o que me ensinaram e só.

Para mim, o melhor tempo e as melhores lembranças que tenho dos meus professores foi quando estudei 2 anos no Colégio Palmares. A diretora Zilda, mulher enérgica e severa ao extremo, se encantou comigo quando em nossa entrevista para admissão no colégio me perguntou o que eu havia feito nas férias e eu respondi sem pestanejar : "eu li".

Lembro-me como se fosse hoje de seus olhos ganhando um brilho diferente e de suas mãos, marcadas pelo vitiligo, largando discretamente a caneta com que tomava anotações sobre mim e meu irmão para se concentrar em mim, ignorando solenemente meu pai, sentado ao meu lado. Naquele dia, o vício da leitura, criticado por muitos parentes por tomar demais o meu tempo livre foi o meu passe livre para minha admissão e de meu irmão naquele colégio. O fato dos livros que eu havia lido naquelas férias serem de Jorge Amado, Machado de Assis e Érico Veríssimo só acrescentou a famosa cereja no topo do bolo.

E o Palmares me presenteou com os melhores professores de minha vida. Cada um deles deixou uma lembrança bonita na minha memória mas minha professora de literatura foi a que mais marcou minha vida. A própria Zilda, professora de história, sabia como ensinar de verdade. E meu professor de filosofia, Cesar que me apresentou Sartre e Camus e que me deu A+ em um trabalho que fiz sobre Emmanuel Kant mas só depois que eu provei que realmente tinha feito o trabalho sozinha. Aprender filosofia com ele foi uma das melhores experiências de minha vida.

E Maria do Carmo. Baixinha, gordinha, óculos arredondados e uma biblioteca inteira abrigada em sua cabeça. Com ela, eu li e amei Cecília Meireles, Lygia Fagundes Telles, Camões, Fernando Pessoa, Eça de Queiroz e tantos outros que eu já conhecia mas aprendi a enxergar através dos olhos dela, cheios de paixão pelas letras. Meu amor pelos livros, pela leitura só cresceu naqueles dois anos convivendo com ela.

Eu não me lembro de nenhum professor da minha época de falcudade com carinho ou mesmo simpatia. Eles para mim, cumpriram o papel a que se propuseram e só. Infelizmente, nenhum deles conseguiu deixar uma marca mais intensa em minha seletiva memória.

Mas não sinto falta daqueles de quem não me lembro, esses apenas passaram e, mesmo que tenham conseguido me ensinar o que era preciso, não fizeram nada além de suas obrigações.

Sinto saudades daqueles que me marcaram com ensinamentos bons, necessários e também com lembranças de momentos, instantes ou mesmo segundos de intensa alegria, a alegria de saber que eu nunca mais me esqueceria daqueles momentos.

A vocês meus professores, que continuam aqui, em minha memória, meu muito obrigada por tudo o que me ensinaram.



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