Sobre uma roedora de unhas

Acho que pouca gente sabe e, além de minha mãe e minhas tias, ninguém se lembra disso mas eu roía minhas unhas.
Quando criança, parecia normal porque, por incrível que pareça, a maioria das crianças com quem eu convivia também roíam.

Até o dia em que eu reparei pela primeira vez nas unhas de alguém. Não me lembro quem era a pessoa, se era parente, conhecida ou se passou por mim na rua.

O que me lembro era das unhas compridas, pintadas de vermelho.

Fiquei impressionada com a beleza daquelas unhas e pedi que minha mãe pintasse as minhas daquele jeito. Mas minha mãe foi totalmente honesta comigo e me disse que esmalte em unhas roídas não ficava bonito e que eu deveria pintar com uma base clarinha primeiro e esperar que as unhas crescessem para depois usar o vermelho.

Mas o meu vício era maior do que a vontade de usar vermelho e eu continuei roendo as unhas e usando no máximo um rosa bem clarinho nelas muito de vez em quando. Mesmo porque, no século passado, criança não podia pintar as unhas com cores escuras, muito menos com vermelho. Pois é, no século passado, quando eu era criança, só usavam unhas vermelhas as putas e as senhoras de muita idade das quais ninguém tinha nada para falar.

Essas, pintavam os cabelos de roxo e as unhas de vermelho e todo mundo respeitava. E eu achava o máximo! Talvez seja justamente por isso que hoje, mesmo sendo uma Barbie Girl e adorando cor-de-rosa, eu ainda tenha uma fascinação imensa por unhas vermelhas e por ficar mais velha.

E só depois de adulta foi que eu consegui me livrar do vício de roer as unhas . Claro que existiram algumas recaídas esporádicas mas minha paixão por esmaltes foi mais forte e hoje, minhas unhas só ficam curtas quando alguma se quebra por acidente e eu preciso cortar todas as outras.

Hoje, em matéria de nail art, vale (quase) tudo, cores, padrões, texturas, carimbos, desenhos...

A criatividade chega a beirar o brega em muitos casos mas eu, particularmente adoro essa liberdade que as unhas ganharam e pouco me importa se alguém acha minha escolha de cores brega ou chique. Para mim, o importante é estar bem comigo mesma. É olhar para minhas mãos e ficar satisfeita com o que eu vejo.

Uso e abuso das variações de rosa porque está na minha alma mas, graças às minhas amigas queridas e nossos encontros quase mensais onde pintar as unhas faz parte da programação, consegui me entender bem com o azul, com o verde, o preto, o dourado, o prata, os cintilantes e descobri mil novas possibilidades de usar as cores e deixar minhas unhas lindas.

Eu continuo amando e preferindo o cor de rosa, continuo descobrindo a cada semana novas ótimas idéias para inovar e surpreender mas, eu nunca vou me esquecer daquelas unhas que me fizeram pensar pela primeira vez que as pontas dos meus dedos poderiam ser algo mais do que um lugar para enterrar meus dentes, que elas poderiam ser tão lindas como aquelas unhas que passaram diante dos meus olhos.

Aquelas unhas pintadas de vermelho, que hoje, eu uso também, com muito orgulho.