sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

O que eu aprendi sendo mãe - Dia 4 - Amamentar ou ser condenada à fogueira

Lá vamos nós de novo. Este post não pretende levantar bandeiras, estou contando minhas experiências com as minhas filhas gêmeas - que hoje estão com 24 anos - e não tentando doutrinar ninguém a fazer ou não fazer alguma coisa.
Não enxerguem chifres em cabeça de égua porque, infelizmente, unicórnios não existem.

E lá estava eu, mãe de primeira viagem com duas menininhas miúdas, chorando de fome e esperando que a "mamadeira ambulante" as alimentasse.

E eu tinha leite, muito leite, ô coisa boa!

Seria bom se eu tivesse apenas um bebê porque, apesar de termos dois seios, o leite que eles produzem, mesmo que seja em grande quantidade, é destinado a alimentar apenas uma criança por vez ou seja, eu não tinha leite suficiente para as duas.

Mesmo assim, consegui entrar em um acordo pacífico com as duas e com meu marido, que morria de medo de segurar um recém-nascido. Para isso, tínhamos uma rotina bem definida : eu amamentava a primeira que estivesse acordada ou a primeira que chorava. Depois, a entregava para o pai, já sentadinho no chão e segurando a mamadeira. E, enquanto ele a alimentava, eu amamentava a segunda. Depois, entregava o bebê para ele, pegava a que havia mamado e trocava a fralda para colocá-la no berço. Neste meio tempo, ele terminava de dar a mamadeira e eu pegava a segunda para trocar e colocar no berço. Depois disso, tínhamos aproximadamente meia hora a 40 minutos para descansarmos antes de ser a hora de dar novamente o peito para elas.

E, há 24 anos atrás, não existia "livre demanda", bebês tinham que mamar de 3 em 3 horas, sem choro nem vela. Era ordem do pediatra, da mãe, da vó, da vizinha que tinha 8 filhos e sempre foi assim e pronto.
Mas as meninas tinham seus horários e nós, eu e meu marido, não tínhamos coragem de deixá-las chorando de fome, mesmo que isso significasse não dormir a noite toda porque sempre tinha uma ou duas mamadas durante a madrugada e com todo o ritual que tínhamos que fazer para as duas, não sobrava tempo para dormir. Já praticávamos a livre demanda muito antes dos pediatras descobrirem que quando eles tem fome, os bebês devem ser alimentados.

Esta festa no apê durou somente um mês e meio - para nós, interminável -  pois, como elas mamavam na mamadeira além do peito, começaram a preferir o leitinho em pó horroroso ao leitinho materno horroroso - porque pode ser lindo, pode ser saudável mas não deixa de ter um gosto horrível - e meu leite foi secando, secando, até que um dia, não tinha mais nada para elas mamarem e passamos ao maravilhoso mundo das toneladas de latas de leite em pó e dezenas de mamadeiras espalhadas pela casa.

Porque com gêmeas, tudo é dobrado sim.
Alegrias e bênçãos em dobro mas também, mamadeiras e fraldas, e chupetas e latas de leite.

E sim, meu leite secou naturalmente, sem stress, sem ser forçado e eu nunca me senti culpada por causa disso. Elas eram miúdas, pequenas para a idade delas mas eram saudáveis e eu descobri que comer pouco, tomar mamadeira ao invés do peito não determinavam uma criança doente, assim como mamar no peito da mãe até os 4 anos nunca foi garantia de uma criança saudável.

Fui julgada, criticada mas nunca, em nenhum momento senti culpa por meu leite ter secado.
Eu encarava tudo com naturalidade, como parte do processo de crescimento delas.
Nem mesmo tendo que escutar que eu era uma "péssima mãe" por não ter dado o peito até os 9 meses, que era o padrão daquele tempo.

Aos 24 anos, minhas filhas estão aí para provar que para ser mãe de verdade, você não precisa  sair na rua mostrando seu bebê agarrado ao seu peito, não precisa se justificar para ninguém o porque de não dar o peito, não precisa se sentir culpada se, por qualquer motivo você não puder amamentar seu filho pelo tempo que outras pessoas acham correto.

Eu aprendi sendo mãe de gêmeas, que o amor pode estar também em um recipiente de plástico aquecido no microondas.

E minhas filhas não me amam menos por causa disso.

O que os outros pensam, nunca me importou.



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